“A gastronomia se consolida como um cartão-postal do Rio de Janeiro”
O Rio de Janeiro vive um momento histórico no turismo e na gastronomia. Os grandes festivais da cidade movimentam a economia e atraem visitantes de todo o mundo, consolidando a capital como referência em hospitalidade. Nesta entrevista, concedida com exclusividade à jornalista, curadora e editora-chefe Lú Vilhena para a Revista Degusta, Bernardo Fellows, presidente da Riotur, fala sobre as perspectivas para o turismo gastronômico, a valorização de polos de bairro e as estratégias para qualificar a experiência gastronômica de quem escolhe o Rio como destino.

Bernardo Fellows, Presidente da Riotur | Divulgação..
ENTREVISTA
1. “O Rio Gastronomia celebrou 15 anos em agosto, com programação no Jockey e presença maciça de marcas e chefs. Como a Riotur pretende valorizar essa energia e iniciativas como o festival ‘Sabores da Orla’ para reforçar o Rio como um destino de turismo gastronômico o ano todo, e não só em grandes datas?”
O Rio tem na gastronomia uma de suas expressões mais atuantes de negócios, cultura e hospitalidade. Nosso papel na Riotur é garantir que outros eventos como o Rio Gastronomia e o Sabores da Orla, por exemplo, extrapolem o calendário e se tornem plataformas de promoção contínua, incentivando outros projetos gastronômicos a escolherem o Rio como sede. Assim como Comida di Buteco, Mondial de la Biere, Gastronomia Sem Fronteiras, Rio Wine & Food Festival e muitos outros.
Queremos que o turista associe o Rio não apenas ao verão e às festas e shows, mas também à boa mesa durante todo o ano. Por isso, incentivamos a inscrição desses festivais na nossa agenda oficial ‘Rio o Ano Inteiro’, ampliando a visibilidade e atraindo não só visitantes, mas também investimentos para a cidade.
Vale frisar que a Prefeitura do Rio, por meio das secretarias de Desenvolvimento Econômico e Turismo, elaborou um estudo no ano passado sobre o turismo gastronômico, indicando que em 10 anos, pode atrair mais dois milhões de turistas e aumentar a arrecadação da cidade em mais de R$ 350 milhões com ações nesse sentido. Além, é claro, do soft power, que também pode ser inserido nesse contexto.
2. “No primeiro trimestre de 2025, o Rio recebeu 744.071 turistas internacionais, que injetaram aproximadamente R$ 2,1 bilhões na economia da cidade. Que oportunidades concretas esse movimento abre para bares, restaurantes e pequenos produtores — e o que a Prefeitura e a Riotur estão fazendo para que essa renda capilarize nos polos gastronômicos de bairro?”
Os números confirmam: o turismo internacional é hoje um grande motor econômico para o Rio. Isso significa mais gente circulando em bares, restaurantes e descobrindo produtores locais. A Prefeitura e a Riotur trabalham para que essa receita chegue também aos polos gastronômicos de bairro, valorizando a diversidade da nossa culinária. Fazemos isso estimulando roteiros descentralizados, apoiando feiras e festivais locais e dando mais visibilidade a quem promove a cultura gastronômica fora dos eixos mais tradicionais.
Importante dizer que os turistas movimentaram R$ 14,5 bilhões na economia da cidade do Rio no primeiro semestre de 2025. Foram 6,8 milhões de turistas visitando o Rio nos seis primeiros meses do ano, sendo 82,5% de turistas nacionais e 17,5% de internacionais. O turismo internacional cresceu 52,1% no primeiro semestre de 2025. No turismo doméstico, a variação positiva foi de 14,7%, com 5,6 milhões de visitantes.
3. “Com a cidade ultrapassando 1 milhão de visitantes internacionais até maio e um calendário robusto de eventos, quais são as três frentes prioritárias para melhorar a experiência culinária do turista (sinalização bilíngue, curadoria de roteiros, qualificação do atendimento, etc.) — e quais metas vocês estabelecem até o verão?”
Sabemos que a experiência gastronômica precisa estar à altura. Algumas das frentes prioritárias da Prefeitura são: ampliar a qualificação dos profissionais, por meio de parcerias com instituições e secretarias; investir em sinalização e comunicação bilíngue, facilitando o acesso à informação; e apoiar a curadoria de roteiros gastronômicos que conectem o turista com a pluralidade dos sabores cariocas. Até o verão, a meta é ter mais estabelecimentos capacitados e conectados à agenda de eventos, para que a experiência seja completa.
4. “Carnaval 2025 superou a marca de 8 milhões de foliões e movimentou bilhões. Que lições desse ‘grande evento a céu aberto’ podem ser incorporadas à operação dos nossos festivais gastronômicos — em resíduos, logística de serviço e hospitalidade — para aumentar ticket médio e satisfação do visitante?”
O Carnaval nos ensina, ano após ano, como gerenciar grandes fluxos com eficiência e hospitalidade. Essa expertise deve ser aplicada aos festivais gastronômicos, com foco em logística de serviços, gestão sustentável de resíduos e atendimento qualificado. Se conseguimos acolher milhões no Carnaval, podemos usar a mesma inteligência para oferecer experiências gastronômicas completas, que elevem o ticket médio e garantam que cada visitante saia com a sensação de que, no Rio, cada detalhe importa.
A gastronomia é um dos pilares mais consistentes do turismo no Rio. Como reforça Bernardo Fellows, os grandes eventos são apenas a porta de entrada para um calendário que precisa valorizar a culinária carioca o ano todo. A Revista Degusta!, especializada em gastronomia e todo seu universo cultural, acompanha de perto esse movimento que une hospitalidade, negócios e identidade cultural em cada sabor.